segunda-feira, 8 de março de 2010

TGV's a baixa/média velocidade...

Depois de uma ausência que me foi imposta por mim mesmo (consciente, portanto) eis que regresso com um tema que hoje andou na baila, à conta do PEC - Plano de Estabilidade e Crescimento apresentado pelo Governo. E hoje, espantem-se, não venho falar das coisas que estão mal, e dos erros que nos fazem rir, mas de coisas sobre as quais tenho algum conhecimento, e sobre as quais estou habilitado a falar. E hoje falo sobre o TGV e o caso português do dito cujo. Quando o Governo de Durão Barroso, com Ferreira Leite na pasta das Finanças assinaram o Convénio Ibérico para as Ligações de Alta Velocidade, estava-se longe de um consenso, principalmente pelo número de linhas / ligações entretanto propostas e que eram 5, configurando uma espécie de Pi deitado. Ferreira Leite foi na altura contra o despesismo que as 5 linhas provocavam, propondo como máximo 3, e configurando assim o que ficou conhecido como o T deitado.
Foi já com o PSD derrotado nas urnas, que o primeiro Governo de José Sócrates se lançou de novo ao projecto, mas desta vez ficando com uma espécie de L, com previsões de ligações lá para o futuro que talvez viessem a cumprir o T ou o Pi...
Ou seja, somatório de erros anos após anos... à direita, ao centro e à esquerda. Sucessivos lobbies para que o bendito comboio parasse nas mais variadas terreolas (perdoem-me pelo adjectivo os habitantes de Coimbra, Aveiro, Santarém, Entroncamento, Viseu, Covilhã, Guarda, Faro... etc etc ). Promessas governamentais e oposicionistas. Assinaturas, Convénios, Congressos,sei lá o que mais.
Ora, com o PEC hoje apresentado, ficou-se a saber que a linha da AV a ser construída entre Lisboa e Vigo, com paragem no Porto foi adiada por um período de 2 anos. (Será que MFL afinal tinha razão há 6 anos atrás quando falava do despesismo?)
Bom, passando aos factos: uma linha de AV entre Lisboa e Porto não faz qualquer sentido. E porquê? Porque Lisboa e Porto distam entre si apenas uns escassos 357 Km (Fonte: ACP). Ora, qualquer comboio de AV que se preste, é assim considerado por conseguir velocidades médias superiores a 300 Km/h em mais de 50% do percurso. Logo e apenas por uma simples razão de aritmética, AV entre Lisboa e Porto não funciona.
Lisboa e Madrid distam cerca de 600 Km, e aí uma linha de AV talvez se torne concorrencial com o avião e apoie na redução dos custos ambientais. E perguntem-se, pasmados, porque é que o autor destas linahs defende uma Linha de AV Lisboa-Madrid e não uma linha de AV Porto-Lisboa-Madrid ou mesmo um directo Porto-Madrid? Porque não faz falta. Nem os espanhóis têm assim tantos interesses comerciais na região norte, nem os empresários nortenhos têm assim tantos negócios em Madrid. Lisboa-Madrid é fundamental? Não. Pelas mesmas razões. Mas poderia ser benéfico? Sim, se considerarmos os ditos factores concorrenciais.
Ou seja, e ainda que seja uma medida extraordinária tomada pelo Governo, em função do PEC 2010-2013, foi benéfico. E foi, porque nos evita uma obra publica gigantesca, faraónica, e que em nada nos viria a beneficiar. (Já agora, Portugal é o país onde o desinvestimento ferroviário mais se nota desde o Estado Novo, quando se massificou a utilização do automóvel). E desta vez, ao contrário do que tem sido habitual nos últimos tempos... esta é uma medida do Governo de José Sócrates que eu aplaudo...

A todos os que quiserem saber mais sobre o TGV, as ligações, etc, desde que eu saiba responder às questões, é só deixarem-nas nos comentários, ou enviarem mail, que tenho todo o gosto em ajudar a esclarecer tudo o que quiserem saber.



(a foto é da Alemanha, onde a AV já é uma realidade desde 1994... num país com dimensões muito superiores ao nosso, e onde o comboio é estimado como meio de transporte, e foi retirada da Net, de forma a ilustrar o artigo)


6 comentários:

Bruno disse...

A gaita disto tudo, é que ainda vamos ter TGV no sentido Lisboa - Porto, do que Lisboa-Madrid onde de certa forma fazia e faz sentido. Outra coisa que me dará mais gozo se a o projecto dito até ao Porto, for para a frente, hoje se quiser chegar cedo ao Norte por via férrea pago em média 28 euros, no caso do TGV deverei pagar no mínimo o dobro. Quem está para isso? Sim claro, os senhores doutores onde as empresas que trabalham os encham os bolsos de euros só para as viagens de "negócios", aqui deverá fazer sentido, dizem eles, os senhores do Governo. Esquecem-se é que, como muitos menos milhões de euros, modernizava-se a linha do Norte no seu total trajecto e metia-se os alfas a 220, isto chegava e sobrava para dar pão a que mais precisa!

João Roque disse...

Já tinha perguntado a mim mesmo, porque rezão tu nunca te tinhas referido a este assunto, já que é algo em que a tua opinião tem peso, devido a essa paixão por tudo o que tem a ver com comboios e ferrovias.
Registei a tua opinião de entendido e agradeço-a, pois estamos necessitados também de informações de quem está dentro dos assuntos.
Abraço(s).

Tiago MM. disse...

Obrigado por seguires :)

Ricardo Costa disse...

Obrigado pela extensão da informação Bruno... Acho que se nós dois nos metessemos a escrever um artigo de opinião sobre a ferrovia portuguesa tinhamos um livro maior que "Os Maias" ou "Os Lusíadas"... mas a verdade é que tu próprio tambem tens razão. E o maior mal é que nós temos um historial enorme de erros acumulados em mais de 50 anos com os transportes ferroviários em Portugal...algum dia nos devíamos começar a entreter e a falar unicamente da História Ferroviária de Portugal... Abraços

Ricardo Costa disse...

João, obrigado por teres por cá passado. E há muito mais que ainda não o disse... infelizmente, em toda esta situação há muito que não se disse, e que se ocultou do "mortal comum", o "zé-povinho", que está geralmente muito mal informado sobre o projecto TGV e sobre a ferrovia em geral. Há um exemplo muito engraçado, com uns anos já e que se refere a Viseu. Viseu perdeu o comboio regular porque não quis investir na modernização da Linha do Vouga, tendo optado pela Auto-Estrada (IP5, hoje A25)...e hoje em dia quase "exigiu" que o TGV lá passasse em direcção a Salamanca, e que lá parasse. E este é só um entre muitos exemplos...

Ricardo Costa disse...

Olá Tiago,

Bem vindo a este espaço e espero que vás aparecendo e comentando mais vezes tambem.