segunda-feira, 9 de novembro de 2009

20 anos depois ...

Berlim é uma cidade de história e de histórias. Para mim é um misto de sensações despertadas quando adolescente. Corria então o ano de 1995, eu era atleta do Sporting C.P. (Não do futebol...) e realizava-se então em Berlim a Gymnaestrada - Encontro internacional de Ginástica, uma espécie de olimpíadas da Ginástica com demonstrações pelos vários países. Eram uma sucessão de primeiras vezes: Para mim, era a primeira vez que viajava de avião. Para todo o mundo era a primeira vez que Berlim voltava a receber um evento mundial, depois de reunificada.

Das minhas memórias da época, ficaram-me alguns momentos. A descida de avião e a saída do aeroporto de Schoenefeld. O passeio turístico entre o aeroporto e a Escola onde ficávamos alojados, e que era mesmo ao lado de Alexanderplatz. O metro. O comboio. Antiquissimos, velhíssimos e com sinais aqui e ali de uma contenção e de uma repressão que durou anos... Aqui e ali os sinais da "velha" Berlim. Da opulência das estátuas, da monumentalidade do Reichstag (depois Bundestag), da porta de Brandenburgo, do Tiergarten....

Mas nada me perdurou mais na memória que o dia do Espectáculo de Abertura da Gymnaestrada, e que aconteceu no OlympiaStadion. O estádio olimpico que tinha sido o palco da abertura dos Jogos Olimpicos de Hitler, servia agora para um mundo reunificado, e onde o mundo se juntava de novo em torno de um objectivo comum. O espectáculo decorreu com a apresentação dos países. Finalmente, todos perfilados, apagam-se as luzes e no estádio entram a correr centenas de crianças com lanternas acesas na mão ao som de "The Wall" dos Pink Floyd... e não há nada mas nada que se sobreponha ao arrepio na espinha que se sente nesse momento.

No fim do espectáculo a demonstração alemã de eficiencia ao "enfiar" (literalmente) dezenas de milhar de pessoas num metropolitano já a abarrotar... sensação indescrítivel, mas comentada por quem viajava comigo que parecia que íamos a caminho de um campo de concentração.

Poucas cidades alemãs que visitei depois me deram as sensações que me deu Berlim. E foi só há 20 anos que o mundo mudou, e que a Alemanha reunificada deu ao mundo mais uma lição de como recuperar de tempos difíceis.

...e como o mundo mudou, em apenas 20 anos...

4 comentários:

João Roque disse...

Nunca soube que tinhas estado em Berlim, integrado nesse evento; deve ter sido maravilhoso, e ainda por cima tão novo...
O estádio olímpico é magnífico, e embora aquele estilo arquitectónico típico dos países nacionalistas, muito moderno e funcional; é bonito o contraste da relva verde e da pista de atletismo azul.
Toda a zona envolvente da Alexanderplatz conservou e ainda conserva sinais nítidos de pobreza comparada com as zonas centrais da Berlim, antigamente ocidental, mas por outro lado ali se concentram os edifícios mais monumentais de toda a cidade de Berlim.
Vale a pena visitar a zona onde antes estava o muro, a Potsdamplatz, agora a zona arquitectónica mais arrojada da cidade.
Quando lá fui a primeira vez (Dezembro 1989), o muro existia em quase toda a extensão e podia ver-se o enorme baldio que era a terra de ninguém, antes da queda do muro.
Voltei lá mais uma vez e lá voltarei em Março para mostrar ao Déjan a cidade, onde antes, há 20 anos atrás existia um muro...a que se chamou o "muro da vergonha".
Abraço.

Ricardo Costa disse...

É verdade Pinguim,

corria então o ano de 1995, e era eu um "puto" de 17 anos, já na altura fascinado por comboios alemães. Passei horas em armazéns e lojas de Berlim, e um pouco por todo o lado ainda se sentia aquela liberdade que surge depois de anos de opressão. Ainda muitas pessoas desconfiadas, muita marca de bala, muitos baldios. Sei por amigos meus que entretanto estiveram em Berlim que a cidade mudou bastante. Mas alem de tudo quanto referi, na altura tinha lido um livro pelo qual acho que todos os adolescentes portugueses passamos, chamado "Os Filhos da Droga", que se passava precisamente em Berlim. Lembro-me de passar em Zoo Garten e sentir-me dentro do livro. Lembro-me de subir à Berlim Funkturm e de lá ver toda a extensão da cidade. Visitar depois os palácios de Potsdam, e tanto mais. Espero numa próxima oportunidade conseguir ir mais alguns dias até Berlim e (re)ver muito do que era e de como se transformou. Sei que vais em Março com o teu Déjan e por isso espero que consigas reunir um grande album fotográfico.

Abraço

Tongzhi disse...

Esta tua descrição de uma Berlim vista por um jovem é fantástica.
Não conheço Berlim, mas é um lugar que gostaria de visitar.

Ricardo Costa disse...

Caro Tong,

Para mim, é uma cidade fantástica e ando à procura da oportunidade para lá voltar... lembro-me de uma cidade que na altura era ainda muito fechada, mas que pelo que vou vendo, mudou muito... vale a pena.

Abraços