terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Curiosos tempos estes...

... em que todos os dias acordamos com novidades... perdão, alarvidades. Hoje um imposto extraordinário, amanhã um novo incentivo à emigração. Eu disse emigração? Ups. Não quero soar como o primeiro ministro. 

Para aqueles que me conhecem bem ou mesmo razoavelmente bem, é notória a minha inclinação para o centro direita da esfera política, ainda que a nível ideológico eu concorde com muitas coisas na esquerda dita "moderada". Nos anos que tenho, marcados sobretudo por fortíssimas influências políticas familiares (na minha família próxima tive informadores da PIDE e resistentes antifascistas, tenho Presidentes de Câmara Municipal e de Junta de Freguesia), levaram-me a acompanhar vivamente a política portuguesa. "Acordei politicamente" durante os governos do Prof. Cavaco Silva, especialmente por conta da então ministra da educação, a Dra. Manuela Ferreira Leite contra quem contestei. Apesar de me ter mantido sempre discreto, pois não busco ribalta nem aventuras que fujam ao habitual, confesso aqui que gostaria de me ter candidatado a Presidente da Junta de Freguesia da terra que considero minha, muito mais do que a cidade onde nasci. Mas este governo, impediu-me. Vão acabar com a minha freguesia, fundindo-a com outras duas. E uma freguesia destas dimensões vai muito para além do que eu pudesse almejar. 

Sigamos em frente, que o que aqui vim hoje desabafar não se prende com a minha política ou os meus desígnios pessoais. Prende-se com a pergunta que mais tem ecoado na minha cabeça nos últimos dias, que é : "Mas quem nos governa está louco?" Senão, veja-se: acredito, talvez de forma demasiado inocente, que chegámos a este ponto por culpa de uma sequência enorme de governantes sem cabeça, ou movidos pelo impulso, e que começaram em Mário Soares, passando por Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes, José Sócrates e agora Passos Coelho. Precisávamos de ajuda externa? Sim. Tal como já tínhamos precisado quando Soares foi primeiro ministro, mas já não se lembra. Mas Sócrates não a quis pedir a tempo devido, e acabou por ser afastado do poleiro de primeiro ministro. Substituido por uma espécie de continuação de mau gosto, qual D. Sebastião renascido por entre as brumas do Tejo, cavalgando desde o seu territóriozinho de Massamá, Passos Coelho chegou-se à frente. Mas como não conseguia sozinho, pediu ajuda a Paulo Portas, que de tanto andar nas feiras, quase se esquecia da realidade e agora não pode voltar às mesmas feiras, que possivelmente quem lhe dava os beijinhos agora ficar-se-ia por uns tomates ou uma bela chaputa nas ventas. A autoridade e a credibilidade deste governo morreram no momento em que Passos depositou a sua confiança em Relvas. Esse numero dois, que na realidade é muito mais que numero um, entrava para o governo, era ferido de morte nos jornais e era salvo pelo primeiro ministro. O messias do país caiu assim redondinho numa armadilha mortal de tal ordem em que já ninguem mais o larga. Do lado do PS, José António Seguro hesita entre ser uma alternativa ou um líder a prazo, rodeado daqueles que ajudaram a fazer cair o governo de José Sócrates. 

Hoje vejo Relvas a tentar entoar "Grândola, Vila Morena" e a única coisa que me vem à ideia é a imagem de Zeca Afonso a rebolar-se no túmulo. Fosse o "Walking Dead" real e não sei se um Zeca Zombie não viria atormentar o Relvas. Mas como o "pobre coitado" do Relvas se comove muito com o desemprego juvenil, ao ponto de isso "lhe tirar o sono", ainda usaria isso em seu favor. Isso ou uma qualquer equivalência obtida por cavar buraquinhos na areia da praia e que lhe desse a possibilidade de substituir um coveiro. 

Resumindo, Passos está morto clinicamente. Portas, morto cerebralmente. Seguro, em estertores. Aliados e inimigos sucedem-se, tentando perceber quem dará a primeira facada ou desferirá o golpe de misericórdia. E no meio de todos eles, o português lixa-se vergonhosamente e com "F" maíusculo. Alternativas? Neste momento nenhumas. O oásis anda longe, e ainda nos falta muito de travessia do deserto. Quantos de nós sobreviveremos? Ou será que voltaremos a ter a capacidade de pensar por nós, e tal como há 105 anos , damos um tiro a quem nos governa e pomos em marcha uma revolução séria? 

Eu por mim, aqui continuo. Observando. Esperando. E comentando. Já que pouco mais posso fazer. 

Um comentário:

João Roque disse...

Acho que todos ainda podemos fazer muito...
Estes últimos dias têm mostrado que o podemos fazer.
A 2 de Março, Portugal tem que vir para a rua, numa manifestação gigantesca, mostrar a estes tipos que não têm com eles senão quem usufrui dos seus tachos.