sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Carta aberta

"Sr. Primeiro-Ministro,
Calculo que nunca irá ler esta carta que lhe escrevo, a menos que algum dia me surpreenda e me responda. Fiz a minha formação em Engenharia Civil, com uma especialidade em Caminhos de Ferro, e ao contrário do seu ministro adjunto, o Dr. Miguel Relvas, eu passei sete anos da minha vida até a concluir, sem outros auxílios, que aqueles que proporcionei a mim mesmo e que a faculdade me concedeu, como concede a todos os alunos.
Sei bem que para si, serei apenas mais um número, mais um eleitor, mas por sinal apoiei a escrita do seu programa de governo, e devo ter sido um da minoria de portugueses que votou esclarecido sobre o que estava a fazer.
Quero com isto dizer que acreditei em si. Que tinha capacidades de ser o D.Sebastião que regressava para nos retirar do nevoeiro do "socratismo". Enganei-me. Acreditei, desde cedo, com a minha formação, que a ideologia social democrata era um caminho justo, social e economicamente. Enganei-me. Acreditei que finalmente consigo acabariam os lobbies e os favores aos amigos e aos familiares. Enganei-me.
Recuando até à minha área, o que me leva a escrever-lhe hoje, é que uma empresa pública do sector Estado, para a qual contribuo, tal como milhares de outros contribuintes, acaba de declarar o encerramento definitivo do Ramal de Cáceres. Acaba-se com o comboio, em vez de favorecer o transporte público, especialmente em tempos de crise. Venceu o lobby do betão e do alcatrão. Prometeu por sinal aos autarcas da região uma auto-estrada directa, como o fez o prof. Aníbal Cavaco Silva com Viseu e com Bragança, quando encerrou a linha do Vouga e a do Tua? Ou quando matou e enterrou Barca d'Alva? Ou as linhas em redor de Évora? Ou o Ramal de Moura?
Pergunto-me, numa óptica do utilizadr pagador, como a que nos querem fazer acreditar que existe com as autoestradas e as CCut (ex-Scut), o utilizador pagador não andaria de comboio se tivesse bons serviços? Se tivesse bons horários?
Deixo-lhe aqui uma sugestão. Proponha também o encerramento da Linha de Sintra e da de Cascais e a sua transformação em privilegiados corredores BUS. Como o Sr. mora em Massamá, até teria maior facilidade em chegar a Lisboa, utilizando as vias prioritárias para o efeito. Mate o que resta do caminho de ferro, pois assim como assim, em betão e asfalto ganha-se mais com menos manutenção. E acaba-se com esses sorvedouros de dinheiros públicos que são a CP e a Refer... Tem é de se precaver, pois assim são menos dois "tachos" a atribuir quando terminar o seu mandato.
Hoje estou de luto pela Beirã e por essas povoações ligadas ao ramal de Cáceres, mas até compreendo porque eles são muito menos contribuintes que nós que para aqui estamos em Lisboa. Qualquer dia, e mesmo seguindo o seu conselho sábio, nem comboios temos para emigrar.
Deixo-o com um abraço e o desejo de umas boas férias em família no seu retiro algarvio da Manta Rota, que muito estimo.
Do seu,
RC

2 comentários:

Sérgio disse...

Embora não concorde totalmente, não posso entrar no discurso técnico mas pergunto: não continua a haver ligação com Espanha? a linha que encerrou não era utilizada apenas por essa ligação? a alternativa não é melhor economicamente?

Ricardo Costa disse...

Sad eyes,

A ligação a Espanha continua a existir, apenas pela Linha da Beira Alta, ou seja, através de um caminho muito mais longo. Imaginando um problema (a linha é em via Única), ficamos sem saídas para Espanha, uma vez que a Linha de Badajoz há muito que não tem serviço de passageiros, tal como a do Douro. Ligações internacionais permanecem a referida Beira Alta e a Linha do Minho. A alternativa é viável economicamente a curto prazo, uma vez que a longo prazo, os horários menos competitivos e o aumento da distância afastarão os passageiros que ainda restam, sem dúvida alguma. A longo prazo torna-se mais económico, porque com esse "desajuste ajustado" arranjam-se os motivos que justificam encerramentos e que justificam a operação de menos comboios, logo, maior economia. (sem custos e sem receitas)