quarta-feira, 11 de março de 2009

Reflectindo...

Está um fantástico dia de sol e calor em Lisboa. Experimente-se passear pela Baixa, e deixar-se levar pelas ruas largas, pelo sol, pela luz que caracteriza a cidade... e sentir o que sentem as pessoas por quem se passa.
Se por um lado são inúmeros os "yuppies" em circulação, agarrados aos telemóveis, i-phones e demais gadgets, correndo distraidamente entre turistas muito pouco apressados e que vão parando montra após montra. Mais uns passos e os restos da cultura hippie surgem por aqui e por ali, com cantores de ocasião, fazendo vibrar cordas de guitarras esquecidas, num compasso mais ou menos melodioso. Turistas estrangeiros falando alegremente as mais variadas línguas do planeta, e cobrindo-se (pouco) do sol que inunda as ruas.
Passo junto de um pedinte e mais outro, estendendo a mão à caridade. Um toxicodependente num equilibrio muito pouco estável, cai após dois passos. A polícia municipal em "segway" chega num instante para impôr ordem e respeito na zona.

Pouco demoro... e apenas meia duzia de passos adiante ouve-se o Fado, na voz inconfundível de Amália, sente-se a cidade pulsar de vida, de gente...

Mais um cantor de ocasião, olha para mim, desprezando o hábito que faz o monge, e possivelmente pensando que leva uma vida melhor que a do "yuppie" que acaba de passar por ele, e é mais feliz, completamente "Peace and Love..."

E é então, que depois de mais alguns passos chego ao metropolitano. Descem-se os primeiros degraus, a galeria espera. Dezenas, senão centenas de pessoas aglomeram-se. Correm de regresso aos seus locais de trabalho, findo o repouso para o almoço. Como veias desta cidade o metropolitano corre veloz pelos túneis. O sangue fervilha nas suas veias, os passageiros entrando e saíndo. Uma discussão aqui por um lugar que não existe, outra discussão ali por um encontrão dado ao sabor do movimento. Chego ao destino, e as pessoas saem, dando o lugar a novas que entram. Continuarão a discutir as pessoas lá dentro? Continuará o cantor a arranhar a sua guitarra? Tudo isto ficou para trás, volto ao sol, estou debaixo das árvores. Ouço os pássaros cantar... se fechasse os olhos por um momento, estaria longe, no campo talvez. Uma buzina traz-me de volta à realidade citadina. Os cheiros misturam-se, as pessoas tambem.

Chego ao escritório onde o conforto do Ar Condicionado me acolhe enquanto escrevo estas palavras. Vivências cruzam-se num poço de elevador. As palavras fluem entre os colegas...

Não ouço mais lá fora os pássaros... apenas o som abafado debitado pelas colunas de som ao lado do computador... Não ouço nem vejo o cantor livre e hippie... Não ouço discussões de metropolitano, nem divagações filosóficas sobre o tempo e o quotidiano. Apenas ouço o natural reboliço dos colegas de escritório. O barulho da fotocopiadora. Os ruídos normais do dia a dia misturam-se...

E num ímpeto de grito de liberdade e de vontade de mudar, desligo o ar condicionado. Abro as janelas. E lá fora os pássaros ainda cantam... só falta desligar o computador, e sair... mas isso ainda vai ter de esperar um pouco mais...

Um comentário:

João Roque disse...

Muito interessante, muito primaveril e optimista este teu texto; para desgraças basta ouvir os noticiários...
Abraço.