sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Requiem

Falta cada vez menos para morrermos. Pelo menos para morrermos estúpidos. Ó povo ignorante, cada vez mais estupidificado apesar dos estudos cada vez mais avançados. Ó povo cada vez mais inteligente e menos esperto. Ó povo adormecido, que cais em festivais e em futebóis, e em missas da Cova da Iria. Sim. Foram vocês, portugueses, que levantaram uma Pátria. Que deram mundos ao mundo. Que governaram meio mundo. Que colocaram ditadores no poder. Que apesar de não gostarem, lhe agradeceram ter-vos livrado de uma Guerra Mundial. Que o deixaram agonizar e morrer numa cadeira, e o substituiram por um que vos deu uma "primavera". E ao qual tiraram do poder com uma revolução em que as balas foram cravos. E os substituiram pelos democratas. Mais socialistas, mais comunistas, mais moderados, mais democratas-cristãos. E todos com ânsias de serem eles os novos dirigentes (palavra que afinal se assemelha a ditadores, mas é mais politicamente correcta). 
Ó jovens que cais semana após semana nos bares do Bairro Alto e do Cais do Sodré. Jovens que dais cabo dos olhos sentados frente aos computadores a consumir o que os outros consomem. 
Ó velhos que lutaram, onde foi parar a vossa inspiração?
Ó companheiros de armas que lutaram por uma África que era nossa e afinal entregámos de mão beijada e pela qual recebemos agora os pagamentos?

Onde anda o espírito português? Onde estão as ninfas e as musas do Tejo a inspirar poetas e escritores? 

Onde estão os verdadeiros e inspiradores ídolos? (Não é de certeza em programas de televisão, esse equipamento de lavagem cerebral em massa) 

Onde estamos nós Portugueses? 

Onde estamos nós que soubémos levantar-nos contra um governo (o anterior) para tirarmos o tapete a um primeiro-ministro acusado e acossado de todas as maneiras? Os mesmos que baralhámos e tornámos a dar as cartas. Com novas caras nem por isso melhores que as anteriores. 

Onde está a nossa indignação por nos estarem a roubar descaradamente: nos vencimentos, nos subsídios, nos trabalhos, nos transportes, e até na cultura, esse "luxo" da sociedade a que nos damos.

Vamos continuar por quanto tempo parados? Por quanto tempo imóveis? Por quanto tempo mais vamos estar anestesiados? Até nos terem roubado tudo? Até termos emigrado todos como o nosso primeiro ministro aconselhou?

Por quanto tempo mais vamos querer ver-nos a nós próprios morrer? 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Carta aberta

"Sr. Primeiro-Ministro,
Calculo que nunca irá ler esta carta que lhe escrevo, a menos que algum dia me surpreenda e me responda. Fiz a minha formação em Engenharia Civil, com uma especialidade em Caminhos de Ferro, e ao contrário do seu ministro adjunto, o Dr. Miguel Relvas, eu passei sete anos da minha vida até a concluir, sem outros auxílios, que aqueles que proporcionei a mim mesmo e que a faculdade me concedeu, como concede a todos os alunos.
Sei bem que para si, serei apenas mais um número, mais um eleitor, mas por sinal apoiei a escrita do seu programa de governo, e devo ter sido um da minoria de portugueses que votou esclarecido sobre o que estava a fazer.
Quero com isto dizer que acreditei em si. Que tinha capacidades de ser o D.Sebastião que regressava para nos retirar do nevoeiro do "socratismo". Enganei-me. Acreditei, desde cedo, com a minha formação, que a ideologia social democrata era um caminho justo, social e economicamente. Enganei-me. Acreditei que finalmente consigo acabariam os lobbies e os favores aos amigos e aos familiares. Enganei-me.
Recuando até à minha área, o que me leva a escrever-lhe hoje, é que uma empresa pública do sector Estado, para a qual contribuo, tal como milhares de outros contribuintes, acaba de declarar o encerramento definitivo do Ramal de Cáceres. Acaba-se com o comboio, em vez de favorecer o transporte público, especialmente em tempos de crise. Venceu o lobby do betão e do alcatrão. Prometeu por sinal aos autarcas da região uma auto-estrada directa, como o fez o prof. Aníbal Cavaco Silva com Viseu e com Bragança, quando encerrou a linha do Vouga e a do Tua? Ou quando matou e enterrou Barca d'Alva? Ou as linhas em redor de Évora? Ou o Ramal de Moura?
Pergunto-me, numa óptica do utilizadr pagador, como a que nos querem fazer acreditar que existe com as autoestradas e as CCut (ex-Scut), o utilizador pagador não andaria de comboio se tivesse bons serviços? Se tivesse bons horários?
Deixo-lhe aqui uma sugestão. Proponha também o encerramento da Linha de Sintra e da de Cascais e a sua transformação em privilegiados corredores BUS. Como o Sr. mora em Massamá, até teria maior facilidade em chegar a Lisboa, utilizando as vias prioritárias para o efeito. Mate o que resta do caminho de ferro, pois assim como assim, em betão e asfalto ganha-se mais com menos manutenção. E acaba-se com esses sorvedouros de dinheiros públicos que são a CP e a Refer... Tem é de se precaver, pois assim são menos dois "tachos" a atribuir quando terminar o seu mandato.
Hoje estou de luto pela Beirã e por essas povoações ligadas ao ramal de Cáceres, mas até compreendo porque eles são muito menos contribuintes que nós que para aqui estamos em Lisboa. Qualquer dia, e mesmo seguindo o seu conselho sábio, nem comboios temos para emigrar.
Deixo-o com um abraço e o desejo de umas boas férias em família no seu retiro algarvio da Manta Rota, que muito estimo.
Do seu,
RC