Depois de uma ausência que me foi imposta por mim mesmo (consciente, portanto) eis que regresso com um tema que hoje andou na baila, à conta do PEC - Plano de Estabilidade e Crescimento apresentado pelo Governo. E hoje, espantem-se, não venho falar das coisas que estão mal, e dos erros que nos fazem rir, mas de coisas sobre as quais tenho algum conhecimento, e sobre as quais estou habilitado a falar. E hoje falo sobre o TGV e o caso português do dito cujo. Quando o Governo de Durão Barroso, com Ferreira Leite na pasta das Finanças assinaram o Convénio Ibérico para as Ligações de Alta Velocidade, estava-se longe de um consenso, principalmente pelo número de linhas / ligações entretanto propostas e que eram 5, configurando uma espécie de Pi deitado. Ferreira Leite foi na altura contra o despesismo que as 5 linhas provocavam, propondo como máximo 3, e configurando assim o que ficou conhecido como o T deitado.
Foi já com o PSD derrotado nas urnas, que o primeiro Governo de José Sócrates se lançou de novo ao projecto, mas desta vez ficando com uma espécie de L, com previsões de ligações lá para o futuro que talvez viessem a cumprir o T ou o Pi...
Ou seja, somatório de erros anos após anos... à direita, ao centro e à esquerda. Sucessivos lobbies para que o bendito comboio parasse nas mais variadas terreolas (perdoem-me pelo adjectivo os habitantes de Coimbra, Aveiro, Santarém, Entroncamento, Viseu, Covilhã, Guarda, Faro... etc etc ). Promessas governamentais e oposicionistas. Assinaturas, Convénios, Congressos,sei lá o que mais.
Ora, com o PEC hoje apresentado, ficou-se a saber que a linha da AV a ser construída entre Lisboa e Vigo, com paragem no Porto foi adiada por um período de 2 anos. (Será que MFL afinal tinha razão há 6 anos atrás quando falava do despesismo?)
Bom, passando aos factos: uma linha de AV entre Lisboa e Porto não faz qualquer sentido. E porquê? Porque Lisboa e Porto distam entre si apenas uns escassos 357 Km (Fonte: ACP). Ora, qualquer comboio de AV que se preste, é assim considerado por conseguir velocidades médias superiores a 300 Km/h em mais de 50% do percurso. Logo e apenas por uma simples razão de aritmética, AV entre Lisboa e Porto não funciona.
Lisboa e Madrid distam cerca de 600 Km, e aí uma linha de AV talvez se torne concorrencial com o avião e apoie na redução dos custos ambientais. E perguntem-se, pasmados, porque é que o autor destas linahs defende uma Linha de AV Lisboa-Madrid e não uma linha de AV Porto-Lisboa-Madrid ou mesmo um directo Porto-Madrid? Porque não faz falta. Nem os espanhóis têm assim tantos interesses comerciais na região norte, nem os empresários nortenhos têm assim tantos negócios em Madrid. Lisboa-Madrid é fundamental? Não. Pelas mesmas razões. Mas poderia ser benéfico? Sim, se considerarmos os ditos factores concorrenciais.
Ou seja, e ainda que seja uma medida extraordinária tomada pelo Governo, em função do PEC 2010-2013, foi benéfico. E foi, porque nos evita uma obra publica gigantesca, faraónica, e que em nada nos viria a beneficiar. (Já agora, Portugal é o país onde o desinvestimento ferroviário mais se nota desde o Estado Novo, quando se massificou a utilização do automóvel). E desta vez, ao contrário do que tem sido habitual nos últimos tempos... esta é uma medida do Governo de José Sócrates que eu aplaudo...
A todos os que quiserem saber mais sobre o TGV, as ligações, etc, desde que eu saiba responder às questões, é só deixarem-nas nos comentários, ou enviarem mail, que tenho todo o gosto em ajudar a esclarecer tudo o que quiserem saber.
(a foto é da Alemanha, onde a AV já é uma realidade desde 1994... num país com dimensões muito superiores ao nosso, e onde o comboio é estimado como meio de transporte, e foi retirada da Net, de forma a ilustrar o artigo)